Viver é uma atividade de alto risco.
Estamos todos expostos diariamente a ameaças constantes: um mundo cheio de microrganismos causadores de doenças, agentes físicos e químicos danosos, ambientes perigosos, armadilhas da natureza e aquelas que nós mesmos inventamos (carros, armas, internet), predadores humanos de todos os tipos. Uma boa parte de tudo que fazemos no nosso dia está relacionado à busca por proteção e segurança. Somos biologicamente levados a isso: trata-se do nosso instinto de sobrevivência e preservação da espécie.
Alguns cuidados são universais (vacinas, precauções contra contaminações diversas, uso de repelente, protetor solar, atenção ao ambiente, regras básicas de segurança pessoal, prudência no contato com estranhos, cautela na interação virtual, etc).
Sem mesmo nos dar conta, adotamos e automatizamos uma série de procedimentos na nossa vida cotidiana.
Não é difícil imaginar que essa é uma questão bem mais complexa para pessoas com deficiência. Por isso, é algo que precisa ser abordado sistematicamente nos atendimentos terapêuticos e divulgado para o público em geral, sempre que possível.
Considerando a variedade das deficiências existentes (físicas, sensoriais, cognitivas, intelectuais), é inviável falar de procedimentos de segurança que contemplem todos os pontos de vulnerabilidade num só texto. Vamos focar, então, nos problemas decorrentes de limitações na comunicação (muito frequentes no autismo, mas não exclusivas desta condição), lembrando que elas podem ocorrer na linguagem receptiva (compreensão da mensagem), na linguagem expressiva (capacidade de expressar claramente suas intenções e necessidades) ou em ambas.
Estas são algumas das estratégias que podemos implementar, de forma individual ou coletiva:
Sinalização do ambiente
Escolas, shopping centers, lugares de grande circulação de pessoas em geral devem identificar claramente (utilizando palavras E imagens ou símbolos de fácil reconhecimento) os acessos às saídas, banheiros, locais de serviços e informações, etc.
Comunicação aumentativa e alternativa
Ampliar as possibilidades de uma pessoa se expressar é fundamental para sua segurança e independência (utilização de cartões, sistema de figuras (PECS), aplicativos de CAA e outros dispositivos).
Acessórios
- Uso de mochilas-guia, carrinhos ou outros equipamentos para crianças que podem disparar impulsivamente e desaparecer do campo de visão dos cuidadores, colocando-se em risco.
- Uso de artefatos de identificação para pessoas não oralizadas ou que ficam temporariamente incapacitadas para prestar informações essenciais sobre si mesmas (convulsivas, com quadro demenciais ou que emudecem sob algumas circunstâncias): pulseiras, ou cartões contendo nome, telefone, endereço e, quando relevante, diagnóstico, informações sobre medicamentos que toma e providências imediatas.
Instrução quanto à interações
É preciso instruir explicitamente os limites das nossas relações interpessoais. Vale usar figuras, vídeos, demonstrações. Na interação pessoal: que tipo de informação pode ser compartilhada nos diversos níveis de intimidade; a distinção de demonstrações físicas de carinho ou toques inapropriados; quando aceitar ou não aceitar oferecimento de alimentos, bebidas ou ajuda/ carona; sinais de alerta de más intenções. Na interação virtual: de novo, que tipo de informação pode ser compartilhada on line, regras básicas de segurança na internet, como reconhecer e checar narrativa fraudulenta
Planos de ação
Aqui também estamos falando de instruções explícitas, mas para momentos de emergência. Ter bem claro um roteiro de como agir em algumas situações evita que a pessoa entre em pânico e perca completamente o controle da situação. O roteiro precisa ser elaborado de acordo com as características e situações particulares de cada um. Pode envolver coisas bem diferentes, como: mostrar a pulseira ou entregar o cartão com suas informações para a pessoa mais próxima; usar um celular com número de emergência; usar um código previamente combinado; caminhar até uma loja, mercado ou farmácia e pedir auxílio apenas a quem estiver no caixa; permanecer em local previamente estipulado até a chegada de ajuda. Não podemos esquecer de combinar um plano B para uma possível falha do plano original.