A pessoa experimenta uma sensação de mal-estar, mas não consegue identificar ou descrever exatamente o que é. Só sabe que algo não está bem. Alguém próximo – amigo, parceiro, familiar – percebe e pergunta. Mas a resposta é vaga ou mesmo rude. Muitas vezes, esse alguém próximo interpreta que a pessoa não que falar, está evitando o assunto, não confia nele. A pessoa fica num misto de confusão e frustração (que, infelizmente, é bem familiar). Não é que não queira falar. Ela simplesmente não sabe explicar. Sentimentos como medo, raiva ou tristeza – e mesmo os prazerosos, como alegria e expectativa – não são reconhecidos como tal. Mesmo sensações do corpo podem chegar de maneira “embotada”, imprecisa.
Alexitima é a palavra que usamos nomear essa característica (do grego” falta de palavras para sentimentos”).
Parece um problema inofensivo, mas a pessoa com alexitimia muitas vezes tem dificuldade para confiar em suas próprias sensações e reações. Sabe que não reage como a maior parte das pessoas aos acontecimentos e percebe que também não reconhece as reações das outras pessoas da mesma forma. Algumas vezes, por causa disso, a pessoa com alexitimia desenvolve um estilo evitativo de se relacionar com os outros. Toma decisões com base em “indicadores externos”, em fatos e informações terceirizadas. Pode ser julgada como fria ou insensível. Tem mais dificuldades de regulação emocional e de relacionamento, maior prevalência de ansiedade e depressão, uso de substâncias e distúrbios alimentares.
Cerca de 50% dos autistas tem alexitimia. Essa característica pode se somar a outros desafios vivenciados por pessoas no TEA e acentuar dificuldades nas interações sociais. Portanto, a percepção de sensações, sentimentos e emoções precisa ser explorada e trabalhada no processo terapêutico. Relacionamentos não são regidos apenas por regras e expectativas sociais, mas também pela troca autêntica de experiências afetivas.