Texto originalmente publicado em 18/05/2022, em referência a um episódio ocorrido em Minas Gerais, quando uma criança autista ficou sozinha em casa com o corpo da mãe, Ana Paula, por quase duas semanas.
Há muitos anos, uma pequena paciente minha, autista não oralizada, viu sua mãe sair pelo portão de casa para nunca mais voltar. Era uma mãe amorosa e as duas eram muito unidas e companheiras. Naquele dia, a mãe teve um mal-estar súbito, procurou um serviço de saúde e veio a falecer. Eu continuei acompanhando essa menina e meu coração ficava em pedaços quando seu pai, que passou a trazê-la nas consultas, me contava que muitas vezes ela ficava no portão, olhando para a rua, esperando, provavelmente sem entender por que a sua mãe não voltava.
O nome dessa menina era Ana Paula. E essa é uma das histórias que eu guardo comigo pra sempre.
Essa semana, chorei por outra Ana Paula e por seu filho.
Todos da comunidade autista se comoveram com a história dessa mãe que faleceu dentro de casa, onde estava sozinha com seu filho autista não oralizado de 6 anos. O filho que ficou 12 dias ao lado da mãe morta antes que alguém desse falta deles. 12 dias inimagináveis.
Todo o abandono vivido pelas mães atípicas fica escancarado nessa história.
É triste demais.
Que nossa comoção possa se transformar em solidariedade e redes de apoio.