Tem hora em que os relatos se avolumam, um atrás do outro, e simplesmente não dá pra calar, pra deixar pra lá o descaso com as pessoas que procuram atendimento.
Existe toda uma mobilização envolvida em “ir ao médico”. A pessoa marca consulta, cancela compromissos, arranja transporte, alguém pra ir junto, fica na expectativa de ser ouvido, de que o profissional compreenda sua preocupação e mostre o caminho. Aí, em questão de minutos, sua história e sua angústia são invalidadas e a pessoa volta pra casa sem resposta, sem conforto, sem alívio.
Acreditem – ao contrário dos que só jogam pedras em redes sociais, que julgam sem ter a menor noção da realidade ou generalizam – eu sei bem da rotina pesadíssima da maior parte dos meus colegas, das exigências da profissão. Sei que há Médicos e médicos. Me sinto honrada em ter tantos amigos que escolheram a carreira por amor e se dedicam a ela de verdade.
Mas hoje estou com vergonha, por mim e por vocês.
Então meu apelo é só para que ouçam as pessoas que procuram por vocês. Ouçam de verdade. Mesmo que a queixa não pareça ser significativa. Mesmo que não tenha muito a ver com o que vocês viram nos livros. Mesmo que tenham muitos casos mais graves. Ouçam com atenção e empatia. Ouçam como se vocês fossem tudo com o que aquela pessoa pode contar.
Entendam que vocês provavelmente não têm ideia do que a pessoa passou para estar ali na sua frente.
Pelo menos ouçam.