Autismo leve: o lado que ninguém vê

Estudar, trabalhar, casar e ter filhos: um roteiro conhecido por muitos de nós, que representa expectativas e propósitos que assimilamos desde a infância. Construir uma vida com autonomia e criar uma família são desejos legítimos da maior parte das pessoas – mesmo que envolvam significados variados para cada uma delas.

Nenhuma dessas coisas é fácil, pelo contrário: exigem habilidades diversas, motivação, resiliência e perseverança. Não há dúvida que as dificuldades são maiores para neurodivergentes e pessoas com deficiência. Mas isso não significa que seja impossível.

O estranhamento de muita gente ao ver autistas trabalhando, em relacionamentos afetivos ou criando filhos tem muito a ver com capacitismo, ou seja, com a ideia de que pessoas com deficiência não tem capacidade para exercer esses papéis. É a partir daí que vem os questionamentos sobre o diagnóstico (inclusive por parte de profissionais), a invalidação, o ceticismo em relação ao que a pessoa consegue fazer, a privação de suportes e oportunidades.

Isso é algo que acontece com frequência com autistas nível 1 de suporte, aqueles que mascaram mais e nos quais as dificuldades são menos óbvias (mas não menos reais). Ninguém sabe das perdas que já sofreram e a que custo eles mantêm toda essa “funcionalidade”.

Algumas vezes, autistas com superdotação/altas habilidades atingem posições de destaque em alguma área. Aí, não só recebem os mesmos questionamentos como também têm suas necessidades de suporte ignoradas – afinal… né? Suas histórias são contadas para falar de superação, de supostos “superpoderes autísticos” e para alimentar o mito da meritocracia.

Existem muitas armadilhas no caminho para a compreensão da neurodiversidade.

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CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.