Autismo não é uma desculpa. É uma explicação.

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Muitas vezes, quando o autista (finalmente!) consegue compreender melhor suas dificuldades, é natural o desejo de que as pessoas à sua volta, pessoas importantes na sua vida, também as compreendam.

É mais do que natural o anseio da pessoa para que saibam que ela não estava sendo rude na reunião de família, apenas sendo direta. Que ela realmente não entendeu o que era esperado que fizesse no trabalho, não era pouco caso. Que se atrapalhou toda com o que precisava fazer durante o dia. Que explodiu porque não aguentava mais ficar naquele lugar lotado e barulhento. Que queria, sim, ir encontrar o amigo que não via há anos, mas que congelou na hora de sair. Que precisa, de verdade, ficar sozinha com suas coisas por um tempo no final do dia.

Ser capaz de reconhecer e expressar suas dificuldades para as outras pessoas é um passo importante. É um momento que pede empatia. É a hora de quem ouve estender a mão e oferecer apoio para buscar soluções. Por isso, é muito triste e frustrante quando a resposta vem na forma de julgamento e recriminação. Ouvir que está usando o autismo de muleta, se fazendo de vítima, se acomodando na situação, é quase a mesma coisa que ouvir que “agora que sabe que é autista, bem que podia deixar de ser autista!”. Ou se esforçar para ser igual ao autista X, da reportagem do jornal ou da TV, ou igual ao filho da amiga do vizinho.

O desenvolvimento de estratégias e habilidades para lidar com os desafios é um processo que leva tempo, exige paciência, motivação e perseverança de todos. Não existe milagre, mas pode existir apoio e incentivo.

Precisamos lembrar que o diagnóstico é só o ponto de partida, e a compreensão que vem com o conhecimento pode fazer uma enorme diferença na vida de alguém.

CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.