Capacitismo no meio médico

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Capacitismo é o termo que usamos para o preconceito contra pessoas com deficiência. É a ideia de que pessoas com deficiência são inferiores àquelas sem deficiência, como se pudéssemos definir o valor humano em função da sua suposta capacidade.

Como o machismo e o racismo, é uma forma de preconceito estrutural, herança de séculos de culto a um referencial de perfeição.

O capacitismo está tão entranhado em nossa cultura que quase nem o reconhecemos quando estamos diante dele – inclusive quando somos nós que o propagamos.

Quer alguns exemplos?

Usar palavras como retardado, autista ou esquizofrênico como ofensa a alguém, fazer piadas com surdos e gagos, evitar interações com pessoas com deficiência nos diversos ambientes como se fossem uma outra categoria de seres humanos. Outras vezes, nosso preconceito se externaliza de uma forma diferente, travestido de condescendência e caridade: quando chamamos a pessoa com deficiência de anjo, especial, guerreiro ou herói, quando a infantilizamos e subestimamos seu potencial.

É preciso que estejamos atentos e vigilantes para o capacitismo ao nosso redor. Porque ele fere, menospreza, subtrai oportunidades de vida.

E por que o texto de hoje fala especificamente de médicos?

Simples.

Porque o capacitismo pode ser devastador quando vem de um profissional de saúde que tem o poder de julgar e tomar decisões que afetam a vida de outra pessoa.

É capacitismo quando o médico só fala com o acompanhante da pessoa com deficiência, quando invalida sua história de vida, quando julga que certas deficiências não existem apenas porque são invisíveis (mesmo ignorando pilhas de relatórios de outros profissionais). É capacitismo – com um toque de crueldade – quando o médico, na função de perito, desqualifica as necessidades de alguém.

O capacitismo no meio médico precisa ser identificado e enfrentado para que o compromisso com a vida do outro seja verdadeiro.

Tem dias que dá vontade de gritar.

CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.