Crianças autistas crescem

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Texto originalmente publicado em 2/4/2022, Dia Mundial da Conscientização do Autismo


Neste 02 de abril, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, o meu recado é: crianças autistas crescem!

Parece bem óbvio, né?

Mas não é assim na prática.

Se ainda enfrentamos dificuldades para ter o diagnóstico e encontrar atendimento terapêutico e educacional para crianças, isso torna-se ainda mais difícil para os jovens e adultos. A maior parte dos profissionais não tem preparo para atender essa faixa etária.

Vou falar de uma perspectiva pessoal, sendo mãe de um autista de 23 anos e profissional da área.

À medida que meu filho cresceu, meus pacientes cresceram, fui mergulhando cada vez mais nas questões de adolescência e vida adulta. Os desafios sociais, sexualidade, inclusão nas universidades e ambientes de trabalho, autonomia, problemas de saúde física e mental, entre outros.

Passei a atender um número cada vez maior de jovens e adultos e a procura só crescia, bem além da minha capacidade de oferecer atendimentos. Mas a ficha só caiu mesmo quando um jovem da nossa convivência (autista não diagnosticado) tirou a própria vida, em meio a um período de depressão. A dimensão da tragédia da falta de suporte na vida adulta me atingiu e percebi que precisava ajustar mais uma vez o rumo do meu trabalho e me voltar à capacitação de outros profissionais. Em breve, este será o meu novo compromisso.

Tive o imenso privilégio de conversar com a Temple Grandin, após uma palestra, há alguns anos. Ela falava da importância das ações de suporte para jovens e eu disse a ela que isso praticamente não existia no Brasil.

E ela me respondeu: “Então, criem essas ações”.

CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.