E quando uma dificuldade é invisível para o próprio autista?

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Pode acontecer, algumas vezes, de um indivíduo não ter percepção clara do impacto de uma dificuldade que apresenta, principalmente quando essa dificuldade é relacionada à comunicação social ou à rigidez – questões que afetam diretamente a convivência com as outras pessoas. Afinal, a percepção de prejuízo também depende, com frequência, de uma boa leitura social, da compreensão da perspectiva do outro e do que é esperado em determinado contexto.

Muitos familiares de autistas, pais e parceiros, já me procuraram, angustiados com esse dilema: a convivência está complicada, mas a pessoa autista não reconhece que precisa de ajuda com determinado comportamento. E, quando se trata de um adulto, não há muito o que os outros possam fazer se o indivíduo se nega a buscar essa ajuda.

É preciso que o profissional que recebe essa demanda tenha um bom filtro e muita sensibilidade, e que busque saber, antes de tudo, se os familiares ou parceiros conhecem e compreendem as particularidades do TEA e se foram bem orientados em relação aos suportes, acomodações e estratégias que podem ser usados dentro de casa. Também é preciso verificar se foram capazes de ajustar suas expectativas, especialmente no que diz respeito à normalização (termo que usamos para descrever a noção de que o único padrão aceitável é aquele que conhecemos como “normal”, que está de acordo com as convenções e não se sobressai em meio às outras pessoas).

De posse dessas informações, podemos algumas vezes chegar à conclusão de que a pessoa realmente precisa de algum tipo de intervenção. Nesses casos, cabe ao profissional o papel de mediação entre o autista e os que convivem com ele para guiá-los em direção a um ponto de equilíbrio. As necessidades de todos os envolvidos devem ser discutidas explicitamente e negociadas para que gradualmente possam ser criadas condições de maior conforto para todos.

CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.