Boa parte dos autistas apresenta verdadeiras fixações em determinados temas. Podem passar horas se dedicando a eles, muitas vezes ocupando o tempo de outras atividades do seu dia. Informalmente, chamamos esses interesses de hiperfocos.
Tais interesses constituem uma forma de expressão dos critérios diagnósticos que se referem a padrões restritos e repetitivos de comportamento. Podem se manifestar como um apego excessivo a objetos, coleções, pesquisas extensas ou envolvimento com determinada atividade.
Como diferenciar os hiperfocos de interesses comuns?
Hiperfocos se caracterizam por ser incomuns na sua temática ou objeto, também em intensidade e duração. Alguns temas são clássicos como dinossauros e trens. Outros são claramente estranhos como máquinas de lavar roupas e aspiradores de pó. Quando mais próximos aos interesses típicos de pessoas da mesma idade (Pokemon, videogames) podem ser mais difíceis de ser identificados. A intensidade e a duração dos hiperfocos também são notavelmente mais acentuadas que na população típica.
Os hiperfocos costumam ser fontes de prazer e motivação. Algumas vezes, servem como “ganchos sociais”, como recursos para a auto-regulação e mesmo para apontar uma ocupação no futuro.
Como lidar com o hiperfoco das crianças?
São muito comuns, infelizmente, conselhos para que a família tente “tirar” o hiperfoco da criança, tente distraí-la com outra coisa ou restrinja o acesso ao objeto do seu hiperfoco. Isso acontece mesmo com terapeutas ou professores, com a alegação que se a criança ficar muito focada em uma única coisa, terá prejuízo nas demais áreas. Obviamente há risco de prejuízos quando o hiperfoco monopoliza o tempo de qualquer um, porém a restrição pura e simples, na maior parte das vezes, só resulta em frustração e oposição ao engajamento em outras atividades propostas.
A melhor estratégia é usar o hiperfoco da criança para ampliar seu repertório. Podemos partir do tema de interesse para gradativamente introduzir elementos importantes ou para direcionar a outras atividades.
O prazer é o grande catalisador da aprendizagem.