Quando saímos de um consultório médico após o diagnóstico de autismo de um filho pequeno, o próximo passo costuma estar envolto numa névoa de incertezas. O propósito natural de todo pai e mãe de buscar o que houver de melhor para o filho passa a envolver escolhas e decisões para as quais não foram antecipadamente preparados.
Vasculhar a internet à procura de respostas é quase instintivo. Uma breve investigação leva a um labirinto de siglas desconhecidas, terapias, métodos, um mundo desconhecido cheio de outros pais e mães defendendo uma ou outra abordagem e citando estudos científicos que parecem brotar do chão numa velocidade inacreditável.
No meio de tudo isso, duas palavras se repetem invariavelmente: intervenção precoce.
Intervenção precoce
“Aja o mais rapidamente possível. As melhores chances do seu filho ou filha dependem disso.”
A sensação é de urgência total. Um impiedoso relógio imaginário que passa a dominar a vida dos pais. Tic tac, tic tac.
É exatamente neste ponto que começa nossa conversa hoje. Claro que é importante oferecer um ambiente favorável para o desenvolvimento da criança desde cedo. Mas intervenção precoce não significa intervenção precipitada. Tomar decisões impulsivamente, na ansiedade de silenciar esse tic tac a qualquer custo, não garante os resultados esperados.
Respire fundo.
Vamos analisar com calma alguns pontos importantes, para que sua decisão seja a mais acertada para sua família.
Informe-se a respeito do TEA
Tire um tempo para conhecer a condição do seu filho. Para uma boa parte dos pais de uma criança recém-diagnosticada, autismo é um assunto pouco conhecido. Esclareça suas dúvidas com o médico, peça indicação de bons livros e sites de confiança. Procure blogs com bom conteúdo e informações de qualidade (indico sempre o Lagarta Vira Pupa!). É fundamental que você se familiarize com as questões relacionadas às dificuldades que sua criança apresenta.
Pesquise sobre as abordagens terapêuticas
A abordagem terapêutica do autismo geralmente envolve uma equipe de profissionais. Faça um levantamento dos serviços públicos ou particulares na sua região. Procure conhecer as referências dos profissionais, tanto em relação à formação quanto ao comprometimento. Converse com outros pais e troque informações, tendo em mente, porém, que o que é bom para uma criança não necessariamente é para outra.
Informe-se a respeito de leis e direitos
Seu filho provavelmente vai precisar de suporte terapêutico por alguns anos. Isso tem um impacto na vida familiar. É preciso considerar as questões práticas: o trabalho dos pais, a flexibilidade de horários, as possibilidades financeiras da família, a rede de apoio familiar (ajuda dos avós ou outros familiares). É importante conhecer leis e direitos que se aplicam à cada caso, por exemplo: possibilidade de redução de jornada de trabalho para servidores públicos, regulação para os convênios de saúde, atendimento preferencial, questões referentes à inclusão escolar etc.
Cuide da família
Nenhuma terapia será de grande valia se o ambiente familiar estiver desmoronando. A tensão emocional que costuma acompanhar o período após o diagnóstico pode ser difícil para muita gente. Não raro, o casamento dos pais fica abalado, os outros filhos sentem-se deixados de lado, parentes e amigos se afastam. Surgem dúvidas em relação ao diagnóstico, divergências quanto às atitudes que devem ser tomadas e mesmo insinuações ou acusações sobre “os culpados”. Não podemos subestimar a importância de “cuidar dos cuidadores”. As pessoas tem modos diferentes de se ajustar a novas circunstâncias, de assimilar informações e de manifestar seus sentimentos. É importante respeitar as necessidades de cada um, fomentar um clima de compreensão mútua, conversar sempre. Em alguns casos, um apoio psicológico ajuda muito.
Estabeleça uma rotina saudável
Seu filho ou filha continua sendo uma criança que precisa de amor e cuidados como qualquer outra e isso não depende de nenhuma terapia. Procure estabelecer uma rotina saudável, com tempo suficiente para brincar e descansar. Tente garantir um bom sono e uma boa alimentação, lembrando que crianças autistas podem ter dificuldades maiores com essas questões. Cuide da sua saúde geral, não descuide das vacinas e do acompanhamento pediátrico, investigue problemas orgânicos que possam causar incômodos. Respeite as limitações ocasionadas pelas alterações sensoriais, procurando oferecer um ambiente com um mínimo de estressores. Reserve um tempo para estar com ela: demonstre seu carinho, esteja atento e disponível, observe seus interesses e dificuldades. Aproveite esse tempo para anotar suas dúvidas e preocupações, para depois relatar aos profissionais que vão cuidar dela.
Ninguém espera que essas “tarefas” que descrevemos acima sejam esgotadas antes do início da intervenção. Ao contrário: são apenas pontos de partida (que não podem ser negligenciados) para a tomada de decisões e vão continuar merecendo atenção por muito tempo, devendo ser relembrados e reavaliados sempre.