Eu também já fui mãe de uma criança autista. Meu filho não se tornou adulto de um dia para o outro. Então, sim, eu já estive no seu lugar.
Sei como é a saga até o diagnóstico, como é ouvir palpites e julgamentos de outras pessoas, como é lutar para que o filho possa ter as melhores condições ao nosso alcance para se desenvolver. É cansativo demais, são muitas lutas. Muitas vezes somos tomadas por sentimentos de culpa. Somos assombradas pelo medo do desconhecido, medo de falhar como mãe, medo do futuro.
Há uma luta interna também, contra o próprio preconceito. Fomos criadas em uma sociedade que inferioriza o que é diferente da norma, do padrão. Dói quando percebemos os olhares de reprovação porque nosso filho não se comporta de acordo com o que é esperado. O coração aperta quando os convites das festinhas parecem se tornar mais “seletivos”. Torcemos, secretamente, para que tudo passe, para que um dia as coisas voltem ao “normal”. Começamos a buscar saídas, mergulhamos na pesquisa sobre tratamentos e nos agarramos a promessas de vencer o autismo. Ficamos obcecadas por histórias de superação, querendo alcançar os mesmos resultados. Ter alta das terapias, talvez “sair do espectro”. Cada uma de nós tem sua própria maneira de processar todos esses sentimentos. Um dia depois do outro…
Costuma levar um tempo para que a gente entenda as duas grandes verdades: que nenhum autista é igual a outro e que autistas vão ser autistas para o resto da vida. E está tudo bem.
É claro que devemos oferecer o ambiente mais favorável possível para que nossas crianças se desenvolvam. Não é essa a nossa tarefa em relação a qualquer filho, afinal?
Mas, aos poucos, precisamos buscar mudanças mais profundas, rever nossos (pre)conceitos, trabalhar nossas angústias, fazer ajustes de expectativas, e entender que a luta pela inclusão é coletiva e que vale a pena, por nós mesmas e por nossos filhos.