Muita gente nova tem chegado aqui nos últimos tempos, então gostaria de contar um pouco da minha trajetória.
Não foi um caminho fácil nem simples. Não existia (como ainda não existe) fórmula mágica ou manual. A verdade é que fui costurando uma grande colcha de retalhos ao longo do tempo.
Meu currículo “oficial” está disponível para quem quiser ver: graduação em medicina na FMRP-USP, residência em pediatria na FCM-UNICAMP e treinamento em psiquiatria da infância e adolescência na FCM-UNICAMP.
Mas meu currículo “oculto” é mais interessante.
Sendo mãe de um rapaz autista, tive que buscar as informações que ninguém podia me dar na época, há mais ou menos 18 anos. Eu não sabia nada de autismo, embora fosse pediatra há um bom tempo. Como muitos aqui, bati na porta de muitos profissionais. Foi uma saga até o diagnóstico, e sai desse processo com mais perguntas do que respostas. A partir daí, decidi mergulhar nos estudos para entender melhor meu filho. Nunca houve um curso ou pós graduação que oferecesse todas as respostas que eu precisava. Li tudo sobre desenvolvimento que encontrei pela frente. Frequentei cursos e congressos, aqui e lá fora, destinados a pedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e TOs, porque a área médica não me oferecia a compreensão da intersecção entre nossas áreas.
Aos poucos, as condições do neurodesenvolvimento foram se tornando o centro da minha vida.
Anos depois, vieram as redes sociais, e através delas conheci pessoas que compartilhavam suas vivências dentro da neurodiversidade. Pude ouvir suas vozes e entender coisas que não se acha em nenhum livro ou artigo científico. Também conheci mulheres que se redefiniram dentro da maternidade atípica e que me inspiram até hoje. O convívio com meus pacientes, suas famílias e com tantos profissionais incríveis que tive o privilégio de conhecer é ainda um capítulo à parte. Somos parceiros e cúmplices, aprendendo uns com os outros em cada passo dessa caminhada.
Hoje, com a experiência que tenho, quero contribuir cada vez mais para que o processo não seja tão difícil para outras pessoas, sejam elas profissionais, pais ou autistas (ou a combinação dos 3 juntos 😂).
E continuo costurando a colcha de retalhos…