Sim, quem trabalha com autismo está acostumado com pacientes que não se comunicam pela fala. Mas nem sempre isso significa que a pessoa não é verbal/oralizada.
Nosso assunto de hoje é a ansiedade na sua forma mais silenciosa.
Características do Mutismo Seletivo
Mutismo seletivo é uma condição que se caracteriza pela ausência da fala em situações em que ela é esperada (como na escola, por exemplo) embora ocorra normalmente em outros contextos (geralmente em casa, com a família). Usualmente, aparece antes dos 5 anos de idade, embora muitas vezes não chame a atenção até a entrada na escola, quando aumenta a demanda social e de realização de tarefas. Até então, a família e as pessoas que convivem com a criança costumam atribuir a ausência da fala a timidez excessiva ou a comportamento opositor/desafiador.
Identificando a condição
A identificação dessa condição precisa ser cuidadosa. É preciso excluir distúrbios da fala (inclusive disfluência – a gagueira) e fatores sociais (como estar em ambiente onde uma outra língua é falada) que podem fazer com que a criança não se sinta confortável em falar. É comum que os profissionais tenham dificuldade em fazer essa avaliação, pois dificilmente a criança vai falar no consultório. Vídeos da família mostrando a criança falando em outros ambientes ajudam muito.
Crianças com mutismo seletivo têm boas habilidades de linguagem e geralmente respondem adequadamente com linguagem não verbal. Ainda assim, na maior parte dos casos, a ausência da fala leva a prejuízos educacionais e sociais. Professores costumam ter dificuldades em lidar com a criança e os colegas podem deixá-la excluída de jogos e brincadeiras.
Relação com a ansiedade
Estudos dos últimos 20 anos têm demonstrado uma forte relação entre o mutismo seletivo e a ansiedade, particularmente a fobia social, o que fez com que a condição passasse a ser classificada como um dos tipos de transtorno de ansiedade no DSM 5.
Há vários fatores associados com o mutismo seletivo e sobreposição com algumas outras condições, sendo a ansiedade o componente crucial. Porém, muitas vezes o mutismo seletivo é um diagnóstico preliminar ou a ponta do iceberg.
É necessário que os profissionais estejam atentos a todos os aspectos do comportamento da criança, pois condições do neurodesenvolvimento (como o autismo) e outras condições psiquiátricas (como a esquizofrenia) podem estar envolvidas nessa apresentação.