Neurodiversidade e exaustão: o impacto das demandas sociais no bem-estar

Dar conta de todas as tarefas do dia a dia não costuma ser fácil ou tranquilo pra ninguém. Agora tente imaginar fazer tudo o que você faz normalmente, acrescentando um fator de dificuldade extra, como, por exemplo, um pé quebrado. Ir de um lugar para outro torna-se um processo mais lento e custoso, algumas atividades corriqueiras passam a exigir um alto nível de esforço e o cansaço no final do dia é multiplicado.

Para uma boa parte das pessoas neurodivergentes, os fatores de dificuldade extra estão presentes em vários formatos. Dificuldades para responder às demandas sociais, muitas vezes desnecessárias e complicadas, para lidar com estímulos sensoriais aversivos, para organizar e executar mesmo as tarefas simples, para se auto-regular em meio a um fluxo intenso de pensamentos e sentimentos indomáveis. Esses fatores consomem de tal forma a energia mental da pessoa que levam a um esgotamento inesperado. O cansaço e a exaustão se instalam sem pedir licença.

Aí a mãe pede pra arrumar a cama, a professora pede pra guardar as coisas na mochila, o chefe no trabalho cobra o relatório, o namorado quer passear no shopping – qualquer uma dessas expectativas banais na vida das pessoas, mas que simplesmente são impossíveis de ser atendidas em alguns momentos. Na falta de um entendimento mais profundo, vem o julgamento: preguiça, folga, desinteresse, enfrentamento, comportamento manipulador. Ao longo do tempo, muitas vezes, as relações são corroídas pela decepção. A própria pessoa costuma ter noção de que deveria ser capaz de corresponder àquelas expectativas e sente-se mal por não conseguir.

É fundamental compreender o contexto em que essas situações ocorrem, todas as variáveis que contribuem para a exaustão. Só a partir dessa análise podemos trabalhar para reduzir demandas desnecessárias nos diversos ambientes, reajustar expectativas e desenvolver recursos de apoio.

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CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.