O impacto do trauma no desenvolvimento emocional de autistas

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Ao final do workshop que tivemos no último sábado, sobre regulação emocional no TEA, um dos participantes trouxe uma pergunta muito interessante sobre a relação entre vivências traumáticas e regulação emocional. E, sim, existem períodos sensíveis a estressores durante a maturação das conexões entre nosso sistema límbico – estrutura que compõe nosso cérebro emocional, responsável pelo processamento das emoções – e outras partes do cérebro. Portanto, traumas podem ter impacto no desenvolvimento das nossas habilidades de autorregulação. Não sabemos muito ainda a respeito da extensão desse impacto, mas há um interesse crescente nessa linha de pesquisa.

Toda resposta ao estresse é resultado da interação entre as características do indivíduo, o trauma em si e o ambiente em que a pessoa está inserida. Não é, portanto, algo simples de ser identificado – especialmente em populações neurodiversas.

Autistas são mais vulneráveis a experiências traumáticas. Desde cedo, podem estar expostos a estímulos sensoriais aversivos, demandas sociais difíceis de atender, mudanças inesperadas, entorno pouco compreensivo com suas necessidades, interações negativas, maiores índices de rejeição, isolamento social e bullying. A própria rigidez cognitiva, menor percepção de emoções, menor compreensão do contexto social, dificuldades na comunicação e autorregulação também afetam a maneira que os autistas reagem a essas situações, com impacto direto na sua capacidade de tolerar sofrimento e elaborar respostas adaptativas.

Compreender essas questões antes até de tentar intervir em qualquer comportamento “problemático” é fundamental para fortalecer nossas crianças e adolescentes e ajudá-los a construir estratégias para lidar com suas emoções de forma positiva.

CRM 78.619/SP

Dra. Raquel Del Monde

É médica formada pela USP – RP (1993), com residência em Pediatria pela Unicamp (1996) e Treinamento em Psiquiatria da Infância e Adolescência também pela Unicamp (2013). Viu sua carreira mudar quando seu filho mais velho recebeu o diagnóstico de autismo em 2006. Desde então, vem se dedicando exclusivamente ao atendimento de pessoas neurodiversas, ao aprofundamento nas questões da neurodiversidade, e tornou-se uma ativista da luta anti-capacitista.