Texto publicado originalmente em 2/04/2023
Será que a data de hoje, Dia Mundial da Conscientização do Autismo, serve a algum propósito prático? Digo, no sentido de fazer alguma diferença na vida das pessoas autistas? Ou é só o oba-oba dos eventos e posts fofos? Imagino que essa dúvida já tenha passado pela cabeça de muita gente, principalmente dos que estão nessa caminhada há mais tempo.
As mudanças costumam ser muito mais lentas do que gostaríamos e às vezes o cansaço bate mesmo. Mas ainda hoje eu estava olhando as postagens, vídeos e notícias sobre a data e senti meu ânimo renovado: não temos mais só imagens e frases comoventes nas redes sociais como era na época em que o autismo entrou na minha vida. Temos conteúdos de profissionais de muitas áreas, falando de aspectos do diagnóstico, de suportes, de direitos, educação, ambientes de trabalho. Temos cuidadores e familiares expondo suas reivindicações. Temos matérias legais na mídia. Temos os próprios autistas falando de suas experiências e necessidades. Precisamos de pessoas em todas essas frentes. Unindo esforços, de preferência.
Dia desses aconteceu uma coisa muito legal aqui em casa. Mudei de cidade recentemente e tenho uma diarista nova que já me ouviu muitas vezes falar de autismo em reuniões online ou gravando vídeos. E, um dia, quando sentamos pra almoçar, ela me contou que com frequência encontra uma mulher e seu filho no ônibus de volta pra casa. Que antes achava que o menino era mal-educado, birrento e sem limites; pensava até que faltava umas palmadas ali. Então, depois de ter algumas poucas informações sobre autismo, percebeu que podia ser o caso do menino e seu olhar mudou completamente, ao ponto de defender o garoto e sua mãe num episódio em que foram agredidos verbalmente (quando a mulher confirmou que, sim, o filho era autista).
Conscientização é algo que acontece hoje e em qualquer outro dia, claro. Mas a data especial no calendário dá uma chacoalhada em nichos que não são alcançados normalmente. Bora fazer barulho.
Parte do meu barulho é lembrar a todos que autistas crescem, através do meu primeiro curso online.
Seguimos juntos!