A Síndrome do X- frágil é uma condição genética causada pela diminuição ou ausência de produção de uma proteína (FMRP), que é de extrema importância para a função neuronal, para a plasticidade sináptica no cérebro em desenvolvimento e para a produção de novos neurônios ao longo da vida. O gene que codifica essa proteína está localizada no cromossomo X, um cromossomo sexual. Por essa razão, a síndrome afeta mais homens (1 em cada 4.000) que mulheres (1 a cada 8.000), pois eles tem apenas um cromossomo X, enquanto que as mulheres tem dois (um “compensa” pelo outro.
Temos casos de mutação completa, de maior gravidade e casos de pré-mutação, com quadros mais leves, até mesmo imperceptíveis (adendo 1).
A Síndrome do X-frágil é a causa mais comum de deficiência intelectual herdada. Ela é associada a padrão complexo de déficits cognitivos (em habilidades visuoespaciais, memória de trabalho, planejamento motor) e características comportamentais (ansiedade, mutismo seletivo, regulação de humor, alterações na comunicação social e reciprocidade comportamentos repetitivos), e é também a causa mais comum de autismo associada a um único gene.
Relação com o autismo
Mais de 50% dos homens e 20% mulheres com X-frágil preenchem critérios diagnósticos para TEA, geralmente com um quadro de autismo mais brando.
Um dado muito interessante é que algumas das mutações genéticas já identificadas no TEA (não associado ao X-frágil) afetam justamente RNA mensageiros que se ligam a FMRP. Isso sugere que produtos genéticos controlados pela FMRP estão individualmente associados ao TEA e nos ajuda a entender porque as coisas ficam tão misturadas às vezes. Ou seja, pode ser uma evidência de que diferentes alterações genéticas, afetando diferentes proteínas e substratos neurais, provoquem efeitos em comum nos circuitos cerebrais levando a um quadro de autismo. Fica mais fácil entender porque existem manifestações autísticas em condições tão variadas, como em outras síndromes genéticas conhecidas, além da X-frágil (tais como Esclerose Tuberosa, Síndrome de Down, Angelman, Willians), e também em quadros neuropsiquiátricos diversos (como TDAH e Tourette, por exemplo).
Adendo 1: A mutação completa (quando ocorre uma expansão no DNA excedendo 200 repetições da sequência CGG na região promotora do gene) bloqueia a transcrição do gene. Indivíduos com a pré-mutação (55 a 200 repetições) apresentam uma certa produção da proteína FMRP.