Texto originalmente publicado em 2019
No meu trabalho, acompanho pessoas com diversas condições do neurodesenvolvimento, que vem de muitas outras cidades. Embora eu tenha uma visão bem clara – assim como a equipe que trabalha comigo – sobre o que eu considero como sendo abordagens terapêuticas indicadas para cada uma delas, o fato é que a realidade de cada família pesa mais na hora de montar uma estrutura de suporte.
Sim, é natural que as expectativas e valores dos familiares, o contexto sócio-cultural e a própria disponibilidade de recursos físicos e humanos do local onde vivem sejam preponderantes nessas decisões. Então acabo interagindo com terapeutas de treinamentos e experiências bem diversos: desde aqueles de renome, com muitos títulos, até aqueles que basicamente são procurados por serem as únicas opções da região.
Ao longo dos anos, venho me interessando cada vez mais em conhecer os “mecanismos” por trás do trabalho terapêutico. Ou seja, conhecer o processo neurológico que resulta de cada intervenção realizada e o que isso pode agregar para a pessoa que a recebe. Porque esta é a chave de tudo, na verdade (e prometo que escrevo sobre isso em breve).
Assim sendo – e considerando a quantidade de abordagens disponíveis atualmente (protocolos, técnicas e metodologias) – ter em mente o propósito de cada ação realizada é essencial para avaliar sua relevância para determinado paciente. Importante: estou falando aqui de algo que vai bem além de levar em conta os estudos e as evidências científicas que respaldam cada abordagem (isso já está implícito). Estou falando de COMO se utiliza a capacitação adquirida com a individuação necessária para atender as particularidades únicas de cada um. Para construir ferramentas verdadeiramente significativas para a vida daquela pessoa e não só checar um item de um roteiro padronizado de metas.
Para mim, o que define os melhores profissionais não é a notoriedade ou o fato de estar capacitado para aplicar a metodologia X ou Y. É todo um conjunto de atributos técnicos e pessoais:
- Formação sólida na sua área de atuação primária para identificar o que seu paciente precisa.
- Busca contínua por aprimoramento, partindo da premissa que estamos sempre aprendendo.
- Humildade para ouvir sempre e buscar alternativas quando o resultado não for o esperado.
- Sensibilidade, empatia e dedicação.
Em resumo: são os terapeutas, não as terapias.