É surpreendente observar o quão pouco se fala do TDAH em mulheres.
Tanto o TEA quanto o TDAH são condições do neurodesenvolvimento, de origem predominantemente genética. Ou seja, a pessoa já nasce com uma configuração neurológica diferente, que muda o modo de receber/processar as informações do ambiente e o modo de reagir a elas, resultando em dificuldades específicas.
Existe uma considerável sobreposição e variadas associações entre as duas condições. E, na verdade, muitas coisas que observamos no autismo em mulheres, também se aplica ao TDAH em mulheres.
A maior prevalência em meninos também acontece no TDAH (estimada em cerca de 3 meninos para cada menina). Uma das razões para isso é um viés do encaminhamento para atendimento profissional. Os meninos costumam ter manifestações mais externalizantes (problemas de conduta, comportamento opositor e disruptivo, agitação motora, agressividade) e, portanto, incomodam mais, causam mais problemas na escola e chamam mais a atenção de pais e professores. As meninas costumam ser mais vistas como distraídas, desinteressadas ou desorganizadas (também apresentam melhor comportamento adaptativo e desenvolvem a camuflagem como mecanismo adaptativo) e não costumam ser encaminhadas para avaliação com a mesma frequência. As comorbidades também são diferentes: meninas apresentam mais ansiedade, depressão, alterações de humor e problemas de aprendizagem.
Os sinais e prejuízos da condição tendem a se tornar mais aparentes em períodos de transição (puberdade, transição entre ciclos do ensino, demandas maiores da vida adulta e do trabalho). Quando adultas, mais conscientes de suas dificuldades, muitas mulheres procuram espontaneamente os serviços de saúde, em busca de ajuda.
Os prejuízos podem ser muitos: maior risco de gravidez não planejada, interrupção de estudos, problemas no trabalho e na vida familiar, abuso de álcool e drogas, acidentes etc. A labilidade emocional (irritabilidade, mudanças de humor) aparece como a principal queixa na vida adulta – ainda não temos muitos dados sobre sintomas orgânicos, mas fadiga e dor são relatadas com muita frequência.
É importante que os profissionais estejam atentos para as sutilezas da apresentação do TDAH em mulheres, para que elas possam receber os suportes adequados.
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