O TDAH é a condição neuropsiquiátrica mais bem estudada de todas. Mas, de maneira geral, continua sendo muito mal compreendida.
O próprio “nome de batismo” não ajuda. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade remete a imagens de crianças que não prestam atenção a nada e que não conseguem parar quietas. Algo que provavelmente se aplica à maior parte das crianças em alguma fase de sua vida. Algo que é observado com tanta frequência em escolas, tão sujeito a palpites e achismos, que o termo ficou banalizado e mesmo desacreditado por muitos. Pior: para muita gente que desconhece o assunto, virou sinônimo de criança mal educada, mimada, sem limites.
Que ninguém se engane: TDAH é uma condição real, que tem um grande impacto na vida das pessoas com esse diagnóstico. Sendo uma condição invisível, necessita de avaliação cuidadosa com profissionais bem preparados para que seja corretamente identificada e tratada.
TDAH não é só falta de atenção
Por que eu disse que o nome não ajuda? Déficit significa falta, certo? De onde muitas pessoas concluem que, se a criança assiste um filme inteiro ou fica horas no videogame, não há possibilidade de ter TDAH. Na verdade, “falta de atenção” não é exatamente o que acontece no cérebro de alguém com TDAH. Nem todos sabem, mas pode acontecer exatamente o oposto: a pessoa fica tão concentrada em algo (externo ou interno) que nem percebe o que acontece ao seu redor – o que chamamos de hiperfoco. A dificuldade é na modulação da atenção, não falta dela. Vejam bem, nosso cérebro recebe múltiplos estímulos o tempo todo. Para não entrar em curto circuito, nós inibimos os estímulos que não são relevantes naquele momento para focar naqueles que o são. Quando esse sistema inibitório falha, temos prejuízo não só na atenção, mas na organização mental como um todo: memória, capacidade de planejamento e resolução se problemas, no cumprimento das sequências envolvidas na execução de tarefas – das mais simples às mais complexas.
A hiperatividade também é frequentemente compreendida de forma limitada, como se fosse apenas uma questão de inquietação motora. Mas ela pode se manifestar de outras maneiras, como impulsividade, impaciência, fala excessiva, dificuldades no autocontrole e pensamento acelerado.
Existem critérios clínicos bem definidos para a avaliação. Exames complementares podem ser pedidos para excluir algum outro quadro, mas não “fecham” o diagnóstico. É sempre bom lembrar que condições do neurodesenvolvimento podem se sobrepor (existem mesmo evidências de genes em comum entre elas), de modo que podemos ter associação do TDAH com distúrbios de linguagem, aprendizagem, conduta, com autismo e com transtornos psiquiátricos – o que eu chamo brincando de “TDAH plus”.
O tratamento clínico (psicoterapia e uso de medicação) e o suporte escolar adequado fazem toda diferença do mundo para as pessoas com TDAH.