A Revista Crescer divulgou o conteúdo de um estudo apontando que meninos que passam 2 horas por dia em frente às telas têm mais chance de desenvolver autismo. Pois é. Aquele tipo de notícia que gera comoção e espalha temor, além de acender ainda mais o fogo das polêmicas e não contextualizadas causas ambientais do TEA.
O texto da Crescer se alinha à noção que o senso comum tem em relação aos prejuízos reais do uso excessivo de telas (impacto no sono, atividade física, interações sociais) porém sem explicitar ao leitor leigo as falhas do estudo em questão – sendo a maior delas sugerir que a correlação encontrada (maior tempo de tela – maior incidência de autismo) seja apontada como causa.
O autismo é predominantemente genético
Não custa lembrar que fatores genéticos são responsáveis por 98% dos casos de autismo (cerca de 80% originados de causas genéticas herdáveis e 18% de causas genéticas não herdáveis – mutações novas, por exemplo, não herdadas do material genético recebido dos pais).
Autistas, reconhecidamente, apresentam uma tendência maior ao uso de eletrônicos. Peculiaridades do processamento visual, a busca por previsibilidade e lógica e as limitações da comunicação social são alguns dos elementos por trás disso. Podemos afirmar, sem medo algum, que há uma predisposição neurológica para isso.
Portanto, inverter a ordem dos fatores é um erro mais que evitável.