Transtornos do Neurodesenvolvimento são quadros clínicos que se caracterizam por prejuízo ou atraso no desenvolvimento de funções que são fortemente relacionadas à maturação biológica do sistema nervoso central, como a fala, a coordenação motora, a aprendizagem, o processamento de informações, etc.
Quais são os Transtornos do Neurodesenvolvimento?
Tanto o TEA como o TDAH são transtornos do neurodesenvolvimento, provavelmente os mais conhecidos. Mas além deles, também temos os Transtornos da Linguagem, os Transtornos específicos da aprendizagem (dislexia e discalculia) e os Transtornos da Coordenação Motora (dispraxia). Existem diversas linhas de pensamento quanto à inclusão de determinadas condições nesta categoria, de forma mais ou menos abrangente. Alguns autores também incluem outros transtornos neuropsiquiátricos neste grupo, bem como a Deficiência Intelectual.
- Apesar de serem condições distintas entre si, cada uma com suas particularidades, elas compartilham alguns aspectos – e por isso são agrupadas.
- Todas têm início na infância e apresentam evolução estável, na qual os déficits podem ser amenizados ou compensados ao longo do tempo, embora persistam na vida adulta.
Também em todas elas, as diferenças em relação ao padrão típico estão presentes desde as fases iniciais do desenvolvimento, porém suas manifestações podem ser identificadas apenas mais tardiamente, dependendo da habilidade em questão.
Isso ocorre por dois motivos:
- Muitas habilidades dependem de interações específicas com o ambiente. A aquisição da linguagem oral, por exemplo. Ninguém nasce falando, certo? A fala se desenvolve aos poucos, à medida que a criança tem contato com a linguagem por meio de seus cuidadores e passa a identificar os sons dos fonemas, atribui significado a eles e começa a reproduzi-los para se comunicar. Da mesma forma, muitas outras habilidades precisam dessa interação com o meio.
- Alguns prejuízos só são observados quando a demanda ambiental excede a capacidade de adaptação do indivíduo. A dificuldade de socialização de um autista, por exemplo, pode ser notada apenas após a primeira infância (na qual as brincadeiras com outras crianças são muito ligadas a habilidades motoras) quando então as interações passam a exigir habilidades de comunicação mais sofisticadas.
Por essas razões, em alguns casos, estipula-se uma idade mínima para que o diagnóstico seja feito. Só falamos em dislexia, por exemplo, após 8 anos de idade, e desde que tenha existido condições ambientais favoráveis.
Além disso, para se fazer um diagnóstico de transtorno do neurodesenvolvimento é importante excluir outras causas que poderiam ser responsáveis pelas alterações observadas, como uma deficiência auditiva no caso de atraso da fala.
- A frequência dos transtornos do neurodesenvolvimento é maior em meninos que meninas e a história familiar costuma revelar problemas semelhantes em parentes, aspectos que apontam para a importância de fatores genéticos.
- A coexistência de duas ou mais dessas condições é muito frequente, a ponto de levar a indagações sobre uma possível origem comum, com diferentes manifestações. Esse é um pensamento condizente com o que sabemos sobre configurações neuronais atípicas e neurodiversidade.
Vamos falar um pouco sobre cada um deles.
Transtornos de linguagem
As pessoas com transtorno de linguagem apresentam dificuldades persistentes na aquisição e uso da linguagem oral, em função de déficits na compreensão ou produção da fala, com limitação no vocabulário, estruturação de sentenças e discurso. Suas habilidades linguísticas apresentam-se abaixo do esperado para idade, com prejuízo na comunicação, participação social e aprendizagem.
Sinais de alerta: vocabulário limitado, sentenças rudimentares, erros gramaticais, problemas na compreensão, nomeação, pouco entendimento de sinônimos e palavras com múltiplos significados, dificuldade para lembrar de palavras novas, lentidão para seguir instruções, pouca habilidade de narrativa.
Diagnóstico estável a partir dos 4 anos.
Dislexia
É um transtorno neurobiológico que afeta a aprendizagem da leitura em indivíduos com inteligência e habilidades sensoriais normais, na ausência de alterações significativas do ambiente. Observamos alterações na correção, velocidade e compreensão da leitura. É importante destacar que o desempenho oral do aluno disléxico é bom, contrastando com seu desempenho na leitura. Portanto, é uma criança que assimila bem a informação falada, mas não a informação impressa.
Incidência: 5% da população geral.
Sinais de alerta: dispersão significativa, resistência a atividades que envolvem leitura/escrita, dificuldade de cópia, falha na fluência da leitura e na compreensão, erros persistentes na escrita (trocas, inversões, omissões, aglutinações), queixas sensoriais (incômodo acentuado com iluminação ou sons, tontura, dor de cabeça), confusão entre direita e esquerda, dificuldades motoras.
Diagnóstico estável a partir de 8 anos.
Discalculia
Capacidade inferior à média para resolução de problemas matemáticos em indivíduos com inteligência normal, oportunidade adequada e ausência de distúrbios sensoriais. Incidência: 3-6% da população geral.
Sinais de alerta: discrepância entre inteligência e desempenho numérico, dificuldade persistente na assimilação de fatos matemáticos, mesmo após abordagens individualizadas.
Diagnóstico no terceiro ano.
Dispraxia
Nos indivíduos com dispraxia, a aquisição e execução de habilidades motoras é abaixo do esperado em relação à idade cronológica, apesar de numerosas oportunidades de treino e na ausência de alteração sensorial ou neurológica. Incidência: 5-8% da população geral.
Sinais de alerta: falta de jeito e lentidão nas atividades motoras, interferindo com a vida diária, autocuidado, desempenho escolar e lazer.
Não deve ser diagnosticada antes dos 5 anos.
Deficiência intelectual
A deficiência intelectual é caracterizada por déficits nos processos cognitivos envolvendo habilidades de raciocínio, solução de problemas, pensamento abstrato, planejamento, aprendizagem acadêmica e aprendizagem a partir de vivências.
Tais deficits resultam em prejuízos adaptativos e falha em atender expectativas de independência pessoal. Incidência: 1% da população geral.
Há diferentes níveis de gravidade, considerando três domínios:
- Conceitual (assimilação de conceitos, leitura/escrita, fatos numéricos, uso da informação).
- Social (imaturidade nos relacionamentos sociais, prejuízo no julgamento social).
- Prático (auto-cuidado, utilização de transporte, compras, organização da casa, atividades práticas).
Casos leves podem passar despercebidos até a idade escolar, quando as dificuldades de aprendizagem são mais óbvias.